Mentir é natural. Mentimos o tempo inteiro e por diversos motivos, indo desde a simples vontade de prosperar até a necessidade de impedir que nossos entes queridos se machuquem. É sério. Quando você diz “eu estou bem”, mesmo que esteja ardendo em febre, você está mentindo.

Dessa forma, é natural que escritores também mintam, você não concorda? Não quando criam suas histórias – que não deixam de ser mentiras bem contadas – mas também para si próprios, seja se iludindo com sonhos impossíveis, seja se menosprezando quando não há necessidade.

Por muito tempo, eu olhei no espelho depois de horas na frente do computador e repeti “eu nunca serei um escritor de verdade” ou “escritores não ganham dinheiro no Brasil” e até mesmo “escrever não é um emprego de verdade”. Eu estava mentindo, embora não soubesse disso. E essas mesmas mentiras que eu sempre repetia, hoje em dia, vejo outros aspirantes a escritores dizendo pelos blogs e páginas da internet que visito.

O problema é que elas acabam impedindo que muitos bons escritores alcancem o patamar que merecem. Muitos acabam até mesmo desistindo da profissão. Sei do que falo, porque faltou muito pouco para que isso acontecesse comigo.

Foi para tentar amenizar esse problema que eu escrevi este texto. Para te afastar das principais mentiras que os escritores costumam dizer para si próprios. Vamos a elas:

1. Estrutura e prazo são inimigos da criatividade

Esta mentira eu ouço muitos jovens escritores dizendo. Na cabeça de algumas pessoas, é impossível escrever algo bom e criativo se houver um prazo para terminar e se a história for previamente estruturada de alguma forma. Mas isso é uma grande idiotice.

Uma casa precisa ser planejada antes de ser construída. Uma música precisa ser composta antes de ser tocada. Uma peça precisa ser ensaiada antes de ser apresentada. Da mesma forma, um bom livro – geralmente – precisa ser estruturado antes de ser escrito.

Alguns autores gostam de soltar a imaginação – por assim dizer – e escrever sem rumo. Tolkien é um desses autores. Mas este é o método mais difícil que existe. Apenas escritores excepcionais se dão bem seguindo essa fórmula. O próprio Tolkien demorou quase duas décadas para escrever “O Senhor dos Anéis”, simplesmente por não saber como encerrar aquela história. O resultado foi fantástico, mas se ele não fosse tão dedicado, poderia ter abandonado o projeto.

Se você quer ser um grande escritor, precisa entender que criatividade, estrutura, prazo e organização andam lado a lado. Se você não consegue seguir prazos, jamais será um escritor publicado. Isso é fato. A criatividade é empírica. Ela pode ser aperfeiçoada com estudo e trabalho duro e você deve ter isso sempre em mente.

2. Eu não preciso ler um romance para escrever um romance

Se auto-diminuir é um erro grave. Mas se superestimar é um erro ainda maior. Escrever é difícil. Escrever bem é muito, mas muito mais difícil e não está ligado unicamente ao bom uso do português. Para se tornar um bom escritor você vai ter que passar horas e horas escrevendo e, é claro, lendo muito.

Vou te dar um exemplo. Eu adoro rock, como muita gente faz. Uma das minhas bandas preferidas é o Angra, uma banda brasileira que toca um tipo de heavy metal chamado “Metal Melódico”. Esse estilo musical é conhecido pela sua alta dificuldade técnica. Eu toco guitarra há mais de quinze anos e até hoje não consigo tocar a maioria das músicas do Angra com perfeição. Por que?

Por que os músicos da banda possuem muitos e muitos anos de experiência.

A banda existe há mais de 20 anos e quase todos os integrantes tocam há mais de 30 anos. Como eu poderia me igualar a eles? Não posso. A não ser que eu fosse um asiático superdotado, jamais conseguiria me igualar a eles com tão pouco tempo de estudo, ainda que sejam mais de quinze anos.

O mesmo vale para os escritores. Se você está escrevendo seu primeiro conto de terror hoje, não espere que ele seja tão bom quanto o último livro escrito pelo Stephen King ou tão apavorante quanto os contos do HP Lovecraft. Eles passaram anos e anos aprimorando suas técnicas, lendo muitos autores de diversos gêneros para criar seus próprios estilos. Você precisará passar pelo mesmo caminho se quiser ser tão bom – ou até melhor – do que eles.

3. A história é minha e eu posso fazer o que eu quiser

Essa é a mentira mais comum… E, provavelmente, a mais frustrante de todas elas. Você pode fazer o que quiser com a sua história, é claro, mas se quiser que o seu livro seja publicado um dia, vai ter que abrir uma série de exceções. Muitas delas influenciaram muito nos rumos que seus personagens irão tomar.

Muitas pessoas colocarão a colher em seu trabalho e algumas delas estarão corretas no que estiverem dizendo. Nem todas, é claro, mas alguns profissionais como editores, copidesques, leitores críticos, agentes literários – e muitos outros do mercado literário – possuem opiniões que serão de grande valia para você.

4. Eu posso fazer tudo sozinho

Não! Definitivamente não. Você não pode fazer tudo sozinho. Simples assim.

Grandes sites de autopublicação como a Amazon, o Clube de Autores e o Lulu são ótimas opções para os jovens escritores, mas também podem ser uma grande armadilha se você não estiver completamente preparado para se aventurar nesse mundo.

Editores não existem só para fazer firula. Eles estão aí porque são necessários.

O feedback da sua obra é importantíssimo. De preferência para pessoas gabaritadas, no mínimo que gostem de ler o gênero do seu livro e que serão sinceras com você. Fuja de pessoas que só irão te destruir e fuja ainda mais daqueles que só dirão o que você quer ouvir. Este feedback sincero irá te ajudar a deixar a sua história ainda melhor e apontará uma direção quando você sair do curso.

5. Uma história pode ser qualquer coisa

Essa mentira é muito contada, principalmente por quem gosta de escrever livros de “arte”. Sei que existe um grande preconceito da minha parte nesse ponto, mas essa é a verdade nua e crua. Sabe aqueles filmes que mostram apenas uma gota de tinta escorrendo na parede? É disso que estou falando.

Uma história tem que ser muito mais do que apenas isso. Ela precisa de participações e de um objetivo. Ela precisa passar algum tipo de experiência, algum tipo de emoção plena para o leitor. Uma história não é só conflito, mas ela precisa dele. Nunca se esqueça disso.

Basicamente, uma história é: o protagonista que quer alguma coisa, um antagonista que fica no caminho entre o protagonista e o que ele quer e uma jornada que se segue por causa disso. Qualquer coisa menor do que isso não é uma história de verdade.

***

Bem, basicamente é isso.

Essa são apenas algumas das mentiras que os escritores gostam de contar para si próprios, mas infelizmente existem muitas outras, que eu abordarei nos próximos dias. O importante, na verdade, é estar ciente dos erros que cometemos. Só assim podemos deixar de comete-los.

Até breve e boa escrita para você!

Gostou do post? Então comente. Diga sua opinião. E lembre-se de assinar a newsletter no formulário ao lado e no rodapé para receber os novos posts com ótimas dicas diretamente no seu e-mail.

Entre para minha lista VIP e receba os conteúdos mais exclusivos sobre storytelling diretamente no seu e-mail

Junte-se a mais de 3200 pessoas

Nós não enviamos spam. Seu e-mail está 100% seguro!

Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.