Eu já recebi muitos manuscritos ao longa da minha vida, no tempo em que trabalhei como editor de uma pequena editora independente. Foram tantos livros e protótipos de livros que eu nem poderia contar. Ao mesmo tempo, também já enviei muitos manuscritos, desde os meus 13 anos de idade, quando finalizei meu primeiro romance.

Ainda assim, o que sempre me deixou impressionado é que, pelo menos a metade destes manuscritos eram descartados por não se encaixarem no padrão da editora (linha editorial, formato de envio, etc). Outros 45% eram descartados por conterem erros simples de serem corrigidos, mas que faziam uma grande diferença quando falamos em possibilidade de publicação.

Por que as pessoas cometem esses erros? Eu acredito que são dois fatores interligados. Em primeiro lugar, acredito que é porque os novos autores não tem acesso ao conhecimento necessário para evitar essas armadilhas. Grande parte dos materiais disponíveis estão em inglês e o mercado brasileiro não tem muito interesse em produzir esse tipo de conteúdo.

Em segundo lugar, acredito que falta atenção nos escritores. Eu entendo que a vida é corrida e que a maioria dos autores divide o tempo em duas ou mais atividades para conseguir pagar as contas. Mas, ainda assim, isso não justifica escrever uma apresentação ruim ou simplesmente ignorar o envio de uma Query Letter.

Já escrevi um artigo sobre isso há algum tempo, então você pode clicar AQUI e saber mais.

Neste artigo, vou te oferecer algumas estratégias comprovadas para que você deixe o seu manuscrito o mais interessante possível. O objetivo principal é fazer com que o editor QUEIRA ler o seu livro e, acima de tudo, não consiga resistir a ele.

01 – Busque um agente literário para te representar

Ainda que nossa cultura não leve muito em conta os agentes literários, eles podem ser grandes aliados no processo de conseguir uma boa editora para seu livro. Por isso, é importante conhece-los e tentar iniciar um contato. A melhor forma de fazer isso é realizar uma pesquisa e descobrir qual deles aceita novos escritores e qual tem interesse no tipo de obra que você produz.

Há vários agentes no Brasil, mas o caminho até eles pode ser tão difícil quanto o caminho até uma editora, então mantenha os dois pés no chão. Uma rápida busca no Google mostrará várias alternativas, mas é importante que você fique atento a um detalhe fundamental: bons agentes NÃO cobram.

Isso não quer dizer que ele trabalhe de graça, mas que o pagamento vem apenas depois que eles já te ofereceram algum resultado. Geralmente, o agente fica com uma porcentagem dos seus direitos, depois que o contrato com a editora estiver assinado. Ou seja, ele receberá depois que te der RESULTADOS.

Se você encontrar um agente querendo que você pague uma mensalidade ou algo parecido sem te oferecer nenhuma garantia, corra. Corra muito! Não vou citar nenhum agente neste artigo, mas você pode encontrá-los por aí. Não deixe que seu sonho te cegue. Novamente: você precisa manter os dois pés no chão.

02 – Encontre a editora CERTA para sua obra

Acredite em mim quando digo que a PRINCIPAL reclamação dos editores diz respeito ao fato de que os autores não pesquisam antes de enviar seus manuscritos. Dessa forma, enviam poesias para editoras de fantasia, enviam terror para editoras de não-ficção, enviam auto-ajuda para editoras de contos… Uma confusão.

Editoras tem linhas editoriais. Ou seja: a maioria delas publica apenas um determinado tipo de livros. Um bom exemplo é a Darkside Books. Eles são especialistas em livros de terror. Isso fica claro até mesmo no nome da empresa. Dessa forma, não adianta enviar um romance romântico para eles. O livro não será aceito… Sequer será lido.

Por isso, tenha em mente o fato de que, antes de aprender a enviar seu livro para um editora, você precisa saber o que tem nas mãos. Sobre o que é o seu livro? Em qual gênero ele se encaixa? Que tipo de público ele pode agradar?

Faça buscas extensas na internet. Entre em redes sociais, principalmente Twitter e Instagram, e procure os perfis de autores que se encaixam no mesmo estilo que o seu. Tente descobrir em que editoras eles lançam suas obras e procure pelos perfis dos editores e auxiliares. Também é importante seguir agentes literários. Deixe-se contaminar pelo meio.

Você não deve incomodar-los, apenas aprender mais sobre eles. Observar que tipo de conteúdos eles consomem e coisas do tipo. O seu envio será feito pelos canais oficiais que a editora oferece, nunca de outra forma. Então acesse os sites das editoras e os examine com cuidado e atenção. Descubra quais gêneros e categorias eles estão procurando e, principalmente, se estão aceitando submissões.

Outra ideia interessante é olhar a página de agradecimentos dos livros que você gosta para encontrar os nomes dos editores responsáveis. Isso pode trazer uma luz para sua cabeça, caso você seja um total desconhecido no meio editorial.

E se você tiver a oportunidade de participar de um curso ou workshop literário, mesmo que seja online, aproveite! Essa é uma grande oportunidade de fazer networking e “conhecimento” é a base do reconhecimento. Quem não é visto não é lembrado, já dizia o ditado.

03 – Organize uma lista com as principais editoras/agentes

Este passo é um complemento dos anteriores. É uma das formas mais eficientes para ter sempre uma carta na manga quando for a hora de buscar uma opção de publicação. Montar uma lista única e personalizada com suas melhores opções é uma maneira de se manter um passo a frente de 99,9% dos outros escritores.

Sua lista não precisa ser muito seletiva, no início. Sinta-se livre para colocar o nome e os contatos de todos agentes, editores e editoras que conseguir. Você pode começar com uma gama maior e ir montando listas mais restritas com o passar do tempo, focando em gêneros ou possibilidades reais de ser aceito.

É muito importante que sua lista possua contatos atualizados, com endereços dos sites, e-mails, telefones (quando possível), links para redes sociais e muito mais. Deixe anotações claras e específicas sobre as pessoas com quem você já interagiu, indicando suas opiniões sobre isso.

Uma boa maneira de manter essas anotações organizadas é usar uma planilha. Isso pode te ajudar a ter uma visão geral, editar com facilidade e acrescentar dados relevantes sempre que necessário.

04 – Faça escolhas conscientes e personalizadas

Depois que sua lista esteja completa e aquecida, é a hora de enviar seu manuscrito. Então, o passo básico é saber se os agentes, editores ou editoras ainda estão aceitando os envios. Isso porque, talvez, você tenha passado muitas semanas ou meses produzindo sua lista. As coisas podem ter mudado e um erro brutal é enviar originais não solicitados em períodos errados. Isso pode colocar seu nome em uma lista negra, de onde ela nunca mais sairá.

Em seguida, é importante ressaltar que você não deve criar um único e-mail e enviá-lo em massa para todos as pessoas da sua lista. Seus envios devem ser personalizados e apenas para quatro ou cinco contatos por vez.

Isso vai facilitar a sua forma de trabalhar, porque os agentes e as editoras precisam, dentre outras coisas, saber porque você acha que seu livro é importante para eles. Como sua obra pode se encaixar no modelo de trabalho deles? Por que você é o autor(a) certo(a) para trabalhar com eles?

Você até pode usar um texto base para todos os contatos, mas deve personalizá-lo para cada um deles, ressaltando as nuances que o fizeram escolhe-los.

Uma boa alternativa é ler pelos menos um ou dois livros representados pelos agentes que você pretende conseguir ou publicados pela editora que você almeja. Faça pesquisas extensas nas redes sociais que eles mais usam, bem como dos autores com quem eles interagem.

Esses são alguns detalhes importantes com aos quais você precisa se atentar:

  • Aborde cada pessoa pelo nome e certifique-se de que está escrito corretamente;
  • Explique por que você deseja que ele(a), especificamente, represente/publique o seu livro;
  • Apresente as semelhanças entre sua obra e outras obras que eles representaram ou publicaram;
  • Certifique-se de que seu manuscrito está absolutamente impecável.

Mas, independente do que você fizer, lembre-se de que a personalização é obrigatória. Você nunca deve enviar o mesmo modelo de contato para todos! Mudar a saudação não é suficiente e se você não tiver dois ou três motivos sólidos e detalhados para propor uma representação ou uma publicação, escolha outra pessoa. Simples assim.

05 – Formate o seu manuscrito antes de enviar

Nos EUA, é comum que as editoras não aceitem manuscritos completos. Eles pedem um resumo de duas ou três páginas e os primeiros capítulos. Então, se houver interesse, o restante da obra é solicitada. No Brasil, porém, é mais comum que as editoras e agentes recebam a obra completa para avaliação, mas com uma formatação específica.

Por isso, atente-se a este detalhe. Caso haja alguma especificação sobre formatação, você deve segui-la a risca. Isso pode significar a diferença entre ser lido e ser sumariamente ignorado.

Então reserve um tempo para aperfeiçoar seu manuscrito. Revise seu texto, se ainda não o fez, e o formate de acordo com os padrões exigidos. Se não houver padrão, use as normas da ABNT, por garantia. Não use fontes muito complexas, que dificultem a leitura. Opte pelo básico: Times New Roman, em tamanho 12, com espaçamento simples entre as linhas.

Conclusão

Espero que estas dicas possam te ajudar a conseguir um agente ou uma editora. É importante dizer que este artigo é apenas um apanhado de ideias, mas que não falei sobre um dos itens mais importantes: a Query Letter. E eu fiz isso porque já falei sobre esse tema nesse artigo, que você pode ler clicando aqui.

É claro que não existe nenhuma garantia de que seu livro será aceito, mesmo que você siga todas essas dicas a risca. Mas, fazendo as coisas certas, você pode se preparar e se destacar dos demais. Isso, por si só, já significa uma grande avanço. E a cada nova tentativa, você aprenderá mais sobre esse universo.

Então não desista. As coisas não são fáceis, é verdade, mas também não são impossíveis. Se você terminou sua obra e conseguiu chagar até este artigo, saiba que você já tem o potencial necessário para conseguir. Não desista.

Obrigado pela visita, volte sempre e boa escrita. 🙂

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Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.