Escritores de todo o mundo travam longas batalhas para tentar fazer com que seus textos sejam lidos por um número cada vez maior de pessoas. Alguns fazem isso da forma mais lógica (e mais difícil) imaginável: escrevem bons textos.

Sabe aqueles livros, contos, crônicas, copys ou qualquer outro tipo de escrito se tornam memoráveis, deliciosos de serem lidos? É disso que estou falando. Eles são assim porque conseguem derramar altas doses de serotonina nos cérebros dos leitores.

Mas tem outros tipos de autores que tentam fazer a mesma coisa com força bruta ou ilusões cretinas. Esse tipo escritores, principalmente os novos copywriters, cada vez mais comum no mundo dominado pelas mídias sociais, é composto por indivíduos que usam termos como “concernente” no lugar de “relativo” ou “veio a óbito” no lugar de “morreu”.

Por que eles fazem isso? Para soarem mais inteligentes.

O que eles conseguem com isso? Parecerem idiotas.

Ser vs Parecer

Para algumas pessoas, parecer inteligente é mais importante do que, de fato, ser mais inteligente. Estas pessoas querem colher os louros e desfrutar das conquistas, mas abominam o que precede este momento: o estudo incansável e o trabalho duro.

E é essa necessidade louca de parecer mais inteligente que faz com que muitas pessoas usem termos complexos ou jargões profissionais que remetem a pessoas mais cultas. Agem como se os leitores fossem ignorantes, fáceis de serem enganados. O que, verdade seja dita, nem de longe é verdade.

E isso não acontece apenas no ramo da escrita.

Quem já assistiu uma audiência em algum tribunal já deve ter sentido a mesmo confusão que eu ao ver aqueles juízes “instruídos” usando termos complexos e palavras soltas em latim. Mesmo quando existe uma palavra específica em português para aquela situação.

Eu entendo que existe uma tradição em volta disso e o que eles chamar de liturgia… Mas vamos ser sinceros: é uma idiotice sem fim.

Em alguns momentos, chego a sentir vergonha alheia e até mesmo raiva quando noto que o objetivo de muitas destas palavras é apenas dificultar o entendimento de coisas extremamente simples. Um povo inteligente nunca será enganado, não é mesmo?

Infelizmente, os juízes e advogados tem uma “permissão” para usar termos complexos, mesmo quando isso não é necessário. Mas, se você quer conquistar leitores e quer que eles se apaixonem pelo que você escreve, precisa tomar um caminho diferente. Precisa ser claro e objetivo.

E isso é muito difícil.

Conceito KISS (Keep It Simple, Stupid)

Vou te apresentar um conceito que, embora ainda não tivesse esse nome, já era ensinado pelo maluco beleza do Raul Seixas há muito tempo. O conceito KISS.

Não estou falando da banda de rock (que é muito boa 🤘), mas de um conceito que difundido há muito tempo nos Estados Unidos e que está ganhando forma aqui no Brasil. Neste contexto, KISS é uma sigla para “Keep It Simple, Stupid”. Ou “Mantenha simples, estúpido”, em tradução literal.

Quanto mais simples e claro o seu texto for, mas os leitores vão entender e mais eles vão amar o que você escreve. E, se você tentar dificultar a leitura para parecer mais inteligente, na verdade, os leitores vão pensar que você é estúpido.

Albert Einstein já dizia que se você não for capaz de explicar algo de modo simples é porque você mesmo não entendeu bem. É uma generalização, é claro, mas serve como base.

Vou usar um exemplo recente. Revirando a internet em busca de argumentos contraditórios aos meus, encontrei um site interessante, focado em notícias políticas. Como sempre faço antes de consumir qualquer coisa, fui até a pagina “Sobre” para buscar mais informações sobre o site e os editores.

Foi lá que encontrei uma pérola da língua portuguesa:

As pessoas de compreensão mais comum também têm acesso às formas mais sintéticas de argumentação, pois a dialética não é por si mesma hermética; pelo contrário, sobrevive nas articulações mais singelas.

O que isso quer dizer? Confesso que não entendi por completo. De forma geral, acredito que o autor do texto tentou dizer que o site é acessível a todos os públicos, até mesmo as pessoas mais simples. Mas ele fez isso da forma mais idiota possível.

 Ah! Não vou dizer de que site tirei a citação, mas você pode encontrá-lo facilmente no google. É só copiar e colar. ^^ 

Simples e pobre não são a mesma coisa

Nesse ponto, muitas pessoas se confundem, porque acreditam que, para manter um texto simples, é preciso empobrecer a argumentação. É obvio que isso não é verdade.

Grandes autores são conhecidos pelo seu texto claro, limpo e direto. Isso não quer dizer que escreviam de forma pobre. Charles Bukowski, Ernest Hemingway, Stephen King e Jack Kerouac são apenas os primeiros nomes que me vem a mente, mas há muitos outros.

Manter a coisa simples é muito difícil, na verdade. Isso quer dizer que você deve cortar toda a gordura das frases e deixar apenas o que é relevante para o entendimento.

Como diria urso Balu:

O extraordinário é demais.

Não é uma tarefa fácil. Resistir a tentação de enfeitar a frase ou encher os parágrafos de firulas é uma das maiores habilidades dos grandes autores. É um talento que muitos buscam e poucos conseguem conquistar.

Mas você precisa treinar diariamente para alcançar este objetivo, por mais difícil que seja. O resultado fará com que toda a luta valha a pena. Acredite em mim.

Conclusão

O mais triste de tudo o que conversamos hoje é que sinto que estamos substituindo os inteligentes pelos que parecem inteligentes. A beleza pelo que parece ser belo. A virtude pelo que parece ser virtuoso. Olhe para a nossa situação política atual e me diga que estou errado…

Mas nem tudo está perdido. Poucos minutos diários de leitura e estudo serão capazes de fazer com que você se torne um escritor bem melhor.

Em vários textos deste site, já falei sobre a importância de conhecer um número considerável de palavras para construir sentenças mais sólidas. Mas isso, nem de longe, implica transformar-se em um dicionário ambulante.

Da mesma forma, não seria um desperdício de tempo abrir o www.dicio.com.br uma ou duas vezes por semana. Saber dosar as necessidades é a chave.

Observe as opções e tome a decisão correta. E lembre-se que os leitores nunca leem um texto com o objetivo de glorificar o escritor, mas sim de absorver a mensagem. Por isso, a mensagem precisa ser clara.

Mas não fique obcecado pela simplicidade, muito menos pela complexidade.

O bom autor sempre vai saber a hora certa de usar uma palavra mais pomposa, porque a situação vai exigir este artifício. Ao mesmo tempo, se estiver preparado para isso, você saberá que, as vezes, “pra” soa melhor do que “para” e “tava” soa melhor do que “estava”. Tudo depende da situação.

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Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.