Um tema pouco discutido pelos escritores mas que possuiu muito potencial e pode ser até crucial na escrita de um bom livro é a Retórica. Caso você ainda não saiba, retórica é a capacidade de se usar de uma linguagem, seja ela escrita ou falada, para se comunicar de forma eficaz e extremamente persuasiva.

O termo tem origem na palavra rhetorica, do latim, e que, por sua vez, foi originada do grego ῥητορικὴ τέχνη (rhêtorikê). Ao que se sabe, a retórica nasceu na Sicília por volta de quinhentos anos antes de Cristo e foi introduzida em Atenas pelo sofista Górgias. Ela se desenvolveu muito bem nos círculos políticos e judiciais da Grécia antiga. A retórica foi uma das três artes liberais ensinadas nas universidades da Idade Média, constituindo o “trivium”, junto com a Lógica e a Gramática.

A retórica, geralmente, é utilizada em discursos falados e é por isso que muitos palestrantes e professores são especialistas nesta arte. Para a criação de um discurso estruturado na retórica, seu criador precisa construí-lo em cima de cinco elementos. São eles os Cinco Cânones da Retórica, apresentados abaixo:

  • Inventio (Invenção): A escolha do conteúdo do discurso
  • Dispositio (Disposição): A organização deste conteúdo
  • Elocutio (Elocução): A expressão adequada do conteúdo
  • Memoria (Memorização): A memorização do conteúdo
  • Actio (Ação): A declamação do discurso

Se você deseja aprender mais sobre retórica para utilizá-la em discursos e palestras, sugiro que compre livros sobre o tema e pesquise na internet. Não entrarei mais a fundo nesta área porque o foco deste livro é formar escritores e não palestrantes. Por isso, a partir de agora, irei substituir o termo “discurso” por “texto”, pois isso irá facilitar o entendimento.

Para aplicar a retórica de forma correta, o escritor precisa estar atento aos seus fundamentos, ou seja, os seus Três Pilares. São eles o Logos, Pathos e o Ethos. Quando usados de forma sábia, estes três elementos constituem um texto irresistível para o leitor.

Vamos analisa-los.

O Logos é a Lógica. Seus textos precisam ser lógicos. Eles precisam fazer sentido para quem se dispõem a lê-los. Ainda que você escreva sobre temas fantásticos, como fadas e elfos, é necessário que haja uma conexão entre o mundo real e o seu mundo. Isso pode ser feito de várias formas e, se aplicado corretamente, o leitor sequer notará. Mas ele sentirá uma grande empatia pelos personagens quando perceber que ambos pertencem ao mesmo lugar. Os livros do Harry Potter fazem isso muito bem. Ainda que ele viva em um mundo de magia, vemos coisas que nos puxam para a realidade, como as referências a bandas de rock, a cerveja, a Coca-Cola em algum restaurante e coisas do gênero. Além disso, no verão, ele sempre volta para o mundo real.

O Pathos é a Paixão. Seus textos precisam conter altas doses de paixão, ou seja, de emoção, para que o leitor realmente acredite nele. Se você usou bem o Logos e convenceu o seu leitor de que sua história é lógica e faz sentido, agora deve usar o Pathos para prendê-lo completamente. Com isso, ele vai amar o seu mundo novo e nunca mais vai querer sair dele.

O Ethos é a Ética. Seu texto deve ser ético e verdadeiro. Não é ético escrever sobre uma pessoa ruim, que sempre fez coisas terríveis e que, no fim das contas, acaba se dando muito bem. O leitor não se identificará com este personagem e ficará extremamente decepcionado com você. Isso não quer dizer que o final do seu livro precise ser feliz sempre. Tome como exemplo a história do filme Coração Valente. William Wallace sofre durante toda a história. Sua mulher é morta e, no final, ele também acaba sendo morto. Mas este fim é logico, emocionante e ético, por assim dizer. Wallace cumpriu seu objetivo. Lutou pela liberdade até o fim e seus atos foram decisivos na Guerra da Independência Escocesa.

Vale lembrar que, no discurso, o Ethos também é a forma como o orador convence o público de que está qualificado para falar sobre o assunto. Isso demonstra como o seu caráter, ou seja, a sua ética, aliada aos seus conhecimentos e sua autoridade podem influenciar seus ouvintes. Isso fica claro quando assistimos a uma palestra onde o orador é apresentado como Professor de Harvard. A simples menção a esta importante faculdade já garante qualidades únicas e irrefutáveis ao palestrante e, de forma geral, ao conteúdo de sua palestra.

Tenha sempre em mente que a ética deve estar presente tanto no seu texto quanto fora dele. A retórica deve ser aplicada com cautela. É muito importante atingir e impactar o seu público leitor, mas saiba que existem limites para a manipulação de ideias e você não deve excede-los. Seu público não é bobo e se você tentar manipulá-lo de alguma forma, mais cedo ou mais tarde acabará sendo questionado quanto a isso. O ideal é que você estimule seus leitores a acreditarem naquilo que você escreve e não que os obrigue a acreditar.

De qualquer forma, este é um tema que deve seu muito estudado para ser melhor compreendido e aproveitado. Confira as Referências Bibliográficas nos apêndices deste livro se quiser saber mais.

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Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.