A humanidade é e sempre foi apaixonada por histórias. No crepúsculo dos nossos tempos, os primeiros olhavam para o alto, tentando entender o que eram aqueles pontos luminosos que enfeitavam o céu noturno. Então olhavam para o mar profundo e sonhavam com as possibilidades submersas. E, possivelmente, olhavam para dentro deles mesmos e indagavam o que ainda repetimos:
Quem somos nós? De onde viemos? Para onde vamos?
Para justificar a falta de respostas, criamos deuses e entidades cósmicas dotadas de poderes sobrenaturais e capazes de feitos miraculosos. Essas histórias foram compartilhadas e algumas delas são conhecidas ainda nos dias de hoje.
A consciência humana foi forjada com base nessas histórias e isso tornou sua separação quase impossível. Humanos não sobrevivem sem histórias. E, se não há humanos, também não há histórias, uma vez que (até onde se sabe), somos os únicos seres capazes de armazenar e repassar conhecimento através de narrativas complexas.
Nem mesmo a alta tecnologia atual foi capaz de minimizar a importância das histórias. Isso porque as histórias, de certa forma, também são um tipo de tecnologia. Talvez o storytelling seja a primeira tecnologia criada pela humanidade e, sem sombra de dúvidas, é uma das mais importantes.
Humanos são contadores de histórias. São storytellers natos. Isso é tão importante para a humanidade que as histórias se tornaram vitais para nossa existência. Foi por meio delas que os pais ensinaram seus filhos sobre os perigos da selva, sobre os alimentos certos para o consumo, sobre os caminhos seguros, sobre o poder do fogo, a importância da chuva e os predadores da noite.
As histórias ancestrais ainda estão visíveis nos nomes dos nossos continentes, países, estados, cidades e empresas. Os mercados mais lucrativos do planeta são aqueles diretamente ligados com o processo de contar histórias, como o cinema, a música, os videogames e, acredite você ou não, a guerra.
Convencer pessoas de que matar outras pessoas é a única solução para resolver um problema exige uma ótima história. Não apenas uma história bem construída, mas uma história que desperte os sentimentos certos. Os Senhores da Guerra também são ótimos storytellers. Nos últimos anos, vimos homens e mulheres atravessando continentes voluntariamente, rumo ao desconhecido, porque acreditaram nas histórias contadas por seus líderes. Isso sempre aconteceu e continuará acontecendo. História são ferramentas poderosas e, como tal, podem ser usadas para o bem e para o mal.
Outro aspecto surpreendente das histórias, e aqui falo especialmente das histórias de ficção, é a capacidade que elas têm de transmitir a verdade usando a mentira. Afinal, analisando de forma científica, um livro de ficção nada mais é do que uma grande mentira organizada em capítulos. Ainda assim, em alguns casos, os acontecimentos ficcionais têm o poder de nos transformar e transmitir verdades incontestáveis.
Muitos escritores escrevem sobre pessoas que não existem, fazendo coisas que não aconteceram, em mundos imaginários. Algumas dessas pessoas, acontecimentos e locais, porém, são metáforas para nós mesmos, nossas ações e nosso mundo. E é aí que o valor do storytelling se revela. A humanidade foi forjada no calor das histórias, ao ponto em que a ficção, muitas vezes, parece mais transformadora do que a própria realidade.
É por isso que as histórias são tão importantes no processo de formação das crianças. Quando ouve uma história e, principalmente quando interage com ela, a criança ativa seu processo de construção da sua própria identidade social e cultural. Era assim na antiguidade e continua sendo assim nos dias atuais. As fábulas, contos e lendas que ouvimos na infância cimentaram as bases do que hoje entendemos como sociedade.
Quando você conta a história da Chapeuzinho Vermelho para uma criança, superficialmente, está falando sobre um mundo onde há lobos que falam e se disfarçam de avós. Como subtexto, está explicando que o mundo real é cruel. Que há perigos escondidos e que algumas pessoas não são exatamente quem parecem ser. Há lobos escondidos nas esquinas.
Você fala sobre algo real e sério. Um assunto sobre o qual as crianças deverão pensar, mais cedo ou mais tarde. Mas, ainda assim, está usando mentiras. Parece dúbio? Sim, é mesmo. Afinal, a Chapeuzinho Vermelho nunca existiu. Os lobos não conseguem se disfarçar de avós e, mesmo que conseguissem, qualquer pessoa seria capaz de notar a diferença. Mas a história funciona por causa do subtexto.
Estes aspectos são apenas alguns dos muitos possíveis, quando analisamos o poder das histórias. Elas ajudam no desenvolvimento da criatividade, do raciocínio lógico, do senso de comunidade e até mesmo na moral da criança. Elas também auxiliam no processo de desenvolvimento da linguagem, ampliando o vocabulário e incentivando a descoberta de novas palavras e significados. Por fim, mas não menos importante, ajudam a desenvolver o hábito da leitura.
Esse é o poder das histórias. Mas por que decidi falar sobre isso? É simples. Se você chegou até este site e se interessou por esse artigo, é provável que esteja considerando a possibilidade de contar histórias. Talvez queira viver disso. Então precisa saber que você tem uma arma em suas mãos e uma responsabilidade social gigantesca. Ao mesmo tempo, não deve se assustar com isso. Contar histórias é divertido e, se não for, algo está errado.
O storytelling, ainda que você não saiba o que essa palavra significa (falaremos mais sobre isso em outros artigos), faz parte de você e da sua formação como humano. Então, se você é humano, você ama histórias. E, se você ama histórias, está apto para contá-las. E, se você está apto para contá-las, por que ficar em silêncio?
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