Como ocorre em várias outras áreas ligadas à criatividade, existem muitas lendas sobre a escrita criativa. E quando falamos em livros de ficção, a criação de histórias e personagens muitas vezes é tratada como algo místico ou uma habilidade inata, que ninguém é capaz e desenvolver.
Mas eu devo te alertar que isso é uma grande bobagem, usada por gurus interessados em vender cursos, técnicas e soluções milagrosas. A regra básica é simples: escrever bem é resultado de muita leitura, muito estudo e muita prática.
Também de uma forma básica, podemos dizer que os personagens que cativam os leitores são, em sua maioria, aqueles bem desenvolvidos, com arcos de histórias completas e críveis. Personagens cujas ações nos despertam uma série de reações químicas sem as quais o corpo humano não vive: ocitocina, serotonina e endorfina.
Vamos falar sobre isso em outro artigo, mas entenda que despertar sentimentos como medo, felicidade, raiva, confiança, generosidade, relaxamento, foco, entre outros, é a principal maneira de prender o leitor.
E uma ótima maneira de fazer isso é utilizar arcos de personagens.
Muitos autores sequer sabem o que são arcos de personagens e como eles podem ser utilizados para deixar uma história mais interessante. O objetivo deste artigo é solucionar este problema de uma vez por todas e ainda te apresentar um mundo novo de possibilidades sobre a criação de personagens impactantes.
O que é um arco de personagem?
O arco do personagem é o conjunto de ações pelas quais ele passa ao longo da história para se transformar em algo diferente. Em “O Hobbit” (1937), temos um Bilbo Bolseiro, um camponês que reluta em deixar sua casa para se embrenhar no mundo sombrio, em busca de aventuras. Ao fim do livro (spoiler), temos um personagem completamente diferente, que aprendeu muito e se tornou o herói que sequer sabia que era.
Um arco dos personagem, em sua estrutura mais básica, é composto por três etapas bem simples de serem aprendidas. Confira abaixo:
- O personagem começa de uma maneira;
- O personagem aprende algumas lições ao longo da história;
- O personagem completamente diferente (para o bem ou para o mal).
Conhecendo os três arcos básicos de personagem
Não posso dizer com exatidão quantos tipos de arcos de personagem existem. Novos são criados todos os dias. Mas posso afirmar que todos eles vem de três fórmulas básicas, que vou te apresentar agora.
O Arco da Mudança Positiva
O arco da Mudança Positiva é o mais comum de todos e você vai encontrá-lo na maior parte dos livros, filmes, séries e até músicas que conhece. Sua estrutura apresenta literalmente uma mudança na forma como o personagem pensa ou age ao longo da história.
Geralmente, o personagem começa com algum nível de insatisfação pessoal ou negação sobre a sua verdadeira capacidade. Ao longo da história, depois de ser chamado para a aventura, ele será forçado a desafiar suas crenças mais íntimas e a enfrentar seus demônios internos. Em alguns casos, ele fará isso enfrentando demônios externos. Rsrsrs.
Ao fim da história (ou apenas do arco), o personagem será uma pessoa completamente diferente. Talvez, até mesmo fisicamente.
Muitas pessoas acompanham as histórias unicamente para ver essas transformações. Para saber como pessoas comuns se transformaram em heróis e como grandes ícones sucumbiram ao mal. Por isso, surpreenda. Seja criativo. Com raríssimas exceções, personagens estáticos e imutáveis são um desperdício de tempo do leitor.
O Arco da Mudança Negativa
Este arco é essencialmente igual ao anterior, mas com um detalhe que faz toda a diferença. O personagem não supera suas falhas e se torna alguém melhor. Ele é consumido por elas e se torna ainda pior do que era no começo da trama.
Os exemplos para esse formato são muitos. Em “Star Wars Episódio III – A Vingança dos Sith” (2005), acompanhamos o arco de Anakin Skywalker, que culmina na sua assombrosa transformação no maligno Darth Vader.
Ao longo da série “Breaking Bad” (2008 – 2013), vemos o professor de química Walter White se transformar no perigoso traficante Heisenberg, ao mesmo tempo em que é consumido pelo seu ego e pelo desejo de provar o seu valor.
O arco negativo oferecem mais variações do que qualquer um dos outros arcos e é o favorito de muitos autores, como George R. R. Martin e Stephen King. Mas, quando usado de maneira incorreta, pode soar muito inverossímil. Se não acredita, olhe para o grande número de vilões medíocres nos filmes e livros atuais.
O Arco Plano
Por fim, temos o Arco Plano, que representa uma quebra em relação aos dois primeiros. Isso porque ele é utilizado em personagens que, basicamente, não mudam durante o desenrolar da trama. Este arco pode vir em histórias que apresentam um herói já consolidado e seguro de si.
Porém, na maior parte das vezes, o arco plano é usado em personagens secundários ou, em menor número, em antagonistas. Raramente será utilizado em protagonistas, pelos motivos que já apresentei no arco da Mudança Positiva.
Geralmente, encontramos o arco pleno em histórias de personagens que são os catalisadores das mudanças de personagens que estão nos arcos positivos ou negativos. O Imperador Sheev Palpatine, da saga Star Wars, é um exemplo. Ele é mau e só. Não muda. Não evoluiu.
Gus Fring também tem um arco plano em “Breaking Bad”. Quando é apresentado, ele se mostra um grande distribuidor de drogas, de aparência amável, mas de opinião forte, capaz de cometer os piores crimes para manter seu império. Quando seu arco termina, ele ainda é o mesmo personagem.
Mas como eu uso isso tudo?
Agora você deve estar se perguntando:
- Como eu posso criar arcos dos meus personagens?
- Como eu formo uma base para aplicar esses três arcos?
- Como os momentos importantes da minha história afetam e são afetados pelos momentos importantes dos arcos dos meus personagem?
Não fique nervoso. Na próxima semana e vou publicar um artigo incrível, explicando cada um dos arcos de forma detalhada, para que você nunca mais se perca em personagens rasos e irrelevantes.
Aguarde até a próxima segunda-feira (1 de junho) para descobrir! Até breve.
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