Durante uma transmissão ao vivo realizada no último domingo diretamente do hospital onde está internado em São Paulo, o candidato Jair Bolsonaro fez uma declaração um tanto quanto curiosa. Ele disse que existe uma possibilidade concreta de que ele perca a eleição para o candidato do PT, Fernando Haddad, através de uma fraude. E ele foi mais longe. Disse que o PT descobriu o caminho para o poder e que esse caminho é o voto eletrônico.

Como quase tudo o que ele diz, a afirmação gerou polêmica. Tanto que o novo presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli, correu para contestar as afirmações de Bolsonaro, usando um argumento aparentemente lógico, mas bem simplório na verdade. Segundo ele, Bolsonaro sempre foi eleito como deputado por meio da urna eletrônica, o que atesta que o equipamento é seguro.

Eu não vou entrar no mérito de que existe um abismo brutal entre forjar a uma eleição para presidente e uma para deputado, mesmo que federal, do que para presidente. Ainda mais considerando a situação que vivemos agora, nesse momento.

Bom, continuando a novela, na tarde de ontem, a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a ministra Rosa Weber, também se pronunciou defendendo as urnas eletrônicas. Segundo ela:

Temos 22 anos de utilização de urnas eletrônicas. Não há nenhum caso de fraude comprovado. As pessoas são livres para expressar a própria opinião, mas quando essa opinião é desconectada da realidade, nós temos que buscar os dados da realidade. Para mim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, as urnas são absolutamente confiáveis.

E você? Acredita no que? Você acha que as urnas são seguras? A empresa de segurança digital Avast realizou uma pesquisa para saber o que os brasileiros pensam sobre isso. O resultado não surpreendeu ninguém: 91,84% dos brasileiros acreditam que o sistema eletrônico pode ser violado. Ou seja, apenas 1 em cada 10 brasileiros acredita que as urnas são confiáveis.

E agora vamos aos fatos: existem motivos reais para a desconfiança! Ponto final.

Pesquisadores de segurança e professores universitários já vem falando sobre isso desde 2002, dizendo que existem pontos de falha nas urnas.

Todos os anos, o TSE atualiza os equipamentos para tentar evitar fraudes. E, ao longo dos vários anos de utilização das urnas, já foram encomendados vários testes para discutir a segurança. O primeiro relatório sobre o assunto foi elaborado por professores da Unicamp e recebeu conclusões bem ambíguas. Tanto que outros estudos forma necessários.

Um dos relatórios, conhecido como BRISA e elaborado pelo principal engenheiro por trás da urna eletrônica, mostrou que as urnas brasileiras não atendiam aos parâmetros internacionais de transparência.

Mas o estudo mais polêmico foi o Relatório UNB (que você pode ler clicando AQUI), realizado por uma equipe de professores da Universidade de Brasília que atestou a possibilidade de quebra do sigilo na urna e uma possível adulteração dos votos. Em apenas um teste, os pesquisadores conseguiram quebrar o sigilo dentro das urnas. Imediatamente o TSE afirmou que uma simples melhora no sistema já era suficiente para resolver estes problemas. Mas…

Será que é assim tão simples mesmo?

Não sei se você se lembra, mas em 2012, um hacker de 19 anos assumiu que executou uma fraude nas eleições municipais do Rio de Janeiro. E ele fez isso de uma forma bem simples, modificando o resultado os votos no momento em que eles eram enviados das urnas para o sistema que contabiliza os votos.

E esse é só um exemplo conhecido.

O que eu estou querendo dizer é que o assunto é importante e merece atenção sim. É claro que os ministros vão minimizar o caso, mas, acompanhando a política atual, sabemos que é preciso desconfiar de tudo. Até onde eu sei, nem a ministra Rosa Webere muito menos o ministro Dias Toffoli são especialistas em segurança digital para afirmarem isso com tanta certeza, aina mais com todas.

Equipamentos eletrônicos não são 100% seguros. Quem acredita nisso é ingênuo.

E quem contesta essa verdade só faz isso por uma das duas alternativas: ou por que é muito burro… ou por que está querendo esconder alguma coisa.

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Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.