Na segunda-feira, o Ministério Público venezuelano divulgou que o vereador Fernando Albán Salazar havia se suicidado. Segundo o comunicado, ele se jogou do décimo andar de um prédio do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional, justamente quando seria transferido para um tribunal. Salazar era acusado de estar envolvido na tentativa de atentado com drones contra o presidente Nicolás Maduro, que ocorreu há pouco mais de dois meses.

A versão oficial diz que ele estava numa sala de espera quando pediu para ir ao banheiro. De lá, se jogou pela janela.

Eu não sei como está o seu olfato depois de tanta porcaria fedendo nos últimos meses, mas eu ainda consigo farejar algumas falcatruas quando vejo por aí. Esse vereador era oposição ao governo do Maduro e estava preso desde a última sexta-feira. Ele negava envolvimento no atentado. Na verdade, boa parte dos venezuelanos sequer acredita que o atentado foi real. Tudo parece armado demais, quase como uma desculpa para o governo agir contra a oposição.

O partido do vereador afirma categoricamente que ele foi assassinado pelo regime de Nicolás Maduro. E se você exercitar um pouco a mente, vai ver que é bem provável que eles estejam certos.

Agora, o Itamaray, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da ONU e União Europeia estão cobrando da Venezuela uma investigação sobre morte do vereador. As circunstâncias são muito suspeitas. E me lembra uma situação que os esquerdistas, e até mesmo o próprio Nicolás Maduro, gostam de lembrar sempre que se referem ao período do regime militar: a morte de Vladimir Herzog.

Lembra daquela foto que você deve ter visto até ficar cansado na escola, que mostrava o jornalista enforcado Herzog enforcado com uma com uma tira de pano em uma grade. Ninguém engoliu essa história também.

A tira usada para o suposto suicídio era o cinto do macacão que os presos usavam e ela estava amarrada em uma grade a 1,63 metro de altura. Mas o macacão dos prisioneiros do DOI-CODI não tinha cinto. Ele era retirado, juntamente com os cordões dos sapatos justamente para evitar suicídios. A foto também mostra os pés do jornalista tocando o chão, com os joelhos dobrados numa posição em que o enforcamento era impossível. E a prova principal, é claro, são as duas marcas encontradas no pescoço do cadáver, que são típicas de estrangulamento.

O fato é: regimes autoritários, sejam eles quais forem, resolvem seus problemas assim, com mortes e armações. Com retaliação intensa para cima da oposição. Isso não é exclusividade da esquerda ou da direita. É exclusividade de quem acha que está acima do bem e do mal.

Já tivermos gente assim no Brasil. Ainda temos alguns. E temos outros querendo voltar. O que você pretende fazer quanto a isso?

Lembre-se bem: a Venezuela é logo ali do lado e, mais do que nunca, ela está cada dia mais perto do Brasil.

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Sobre o Autor

Matheus Prado
Matheus Prado

Matheus é jornalista, escritor e cineasta. Acredita que a vida é um oceano profundo e que devemos nos aventurar muito além da superfície.